
"...soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos." Com esse gesto e com essas palavras, Jesus Cristo instituiu o Sacramento da Confissão e a vida dos pecadores arrependidos sobre a face da Terra nunca mais seria a mesma.
No Antigo
Testamento, também havia a confissão a um sacerdote, também havia o perdão dos
pecados, então qual a diferença fundamental para o Novo Testamento? No Antigo
Testamento, os sacerdotes não podiam perdoar os pecados. O sacerdote executava
um rito prescrito por Deus na lei mosaica, sacrificando um animal no lugar do
pecador, ou do povo inteiro, uma vez por ano. Como vemos no Levítico:
“Se for alguém
do povo quem pecou involuntariamente, cometendo uma ação proibida por um
mandamento do Senhor, tornando-se assim culpado, trará para sua oferta uma
cabra sem defeito, pela falta cometida, logo que tiver tomado consciência de
seu pecado. Porá a mão sobre a cabeça da vítima oferecida pelo pecado e a
imolará no lugar onde se imolam os holocaustos. Em seguida, o sacerdote, com o
dedo, tomará o sangue da vítima, e pô-lo-á sobre os cornos do altar dos
holocaustos, derramando o resto ao pé do altar. Tirará toda a gordura, como se
fez no sacrifício pacífico, e a queimará no altar, como agradável odor ao
Senhor. É assim que o sacerdote fará a expiação por esse homem, e ele será
perdoado. Se for um cordeiro que oferecer em sacrifício pelo pecado, oferecerá
uma fêmea sem defeito. Porá a mão sobre a cabeça da vítima oferecida pelo
pecado e a imolará em sacrifício de expiação no lugar onde se imolam os
holocaustos. Em seguida, com o dedo, tomará o sacerdote o sangue da vítima
oferecida pelo pecado, e o porá sobre os cornos do altar dos holocaustos,
derramando o resto do sangue ao pé do altar. Tirará toda a gordura como se
tirou a do cordeiro do sacrifício pacífico, e a queimará no altar, entre os
sacrifícios feitos pelo fogo ao Senhor. É assim que o sacerdote fará a expiação
pelo pecado cometido por esse homem, e ele será perdoado”.
Porém, no Novo
Testamento, Jesus Cristo é ao mesmo tempo o sacerdote e a vítima. Por ser Deus
encarnado, Ele tem o poder de perdoar os pecados, o que causou escândalo aos
escribas. E repassou esse poder aos Apóstolos e seus sucessores, os bispos e
presbíteros. Ou seja, diferentemente dos sacerdotes da Antiga Lei, os bispos e
presbíteros – em comunhão com a Igreja e com as devidas autorizações - têm o
poder de perdoar pecados em nome de Jesus. Mais do que isso: ao ministrar o
sacramento, o sacerdote o faz na pessoa de Cristo, ou seja, não é ele quem está
agindo, mas o próprio Cristo.
Costuma-se
chamar a esse sacramento por cinco nomes: sacramento da conversão, sacramento
da confissão, sacramento da penitência, sacramento do perdão e sacramento da
reconciliação; e é interessante notar que cada um desses nomes corresponde a
uma das fases que o penitente passa. Primeiro, a conversão. Em algum momento, após
o pecado e afastamento de Deus, ocorre o arrependimento e a decisão de buscar o
sacramento. A pessoa vai até o sacerdote e se confessa (sacramento da confissão);
o sacerdote lhe impõe uma penitência (sacramento da penitência); em seguida,
lhe diz a fórmula de absolvição, que efetivamente lhe concede o perdão dos
pecados (sacramento do perdão); e partir daí, então, se dá a reconciliação do
pecador com Deus (sacramento da reconciliação).
Mas talvez o
verdadeiro e mais apropriado nome desse sacramento seja sacramento da
misericórdia. A fórmula de absolvição em uso na Igreja latina inicia dizendo: “Deus,
Pai de misericórdia”. Cada etapa citada anteriormente é fruto dessa
misericórdia: Deus quer a nossa conversão, Deus quer a nossa confissão, Deus
quer a nossa penitência e, por fim, Deus quer nos perdoar e nos reconciliar com
Ele. Reparem que a fórmula não diz “Pai DA misericórdia”, mas sim “Pai DE
misericórdia”. Claro, porque Deus é Pai, é o nosso Pai. Santa Faustina
Kowalska, cujos escritos deram origem à devoção da Divina Misericórdia, disse
que a justiça e a misericórdia são atributos divinos que se complementam, porém
a misericórdia de Deus engloba e ultrapassa a Sua justiça. A misericórdia e
bondade de Deus para com o pecador é inabarcável para a nossa inteligência
limitada e o nosso coração endurecido, tão ávidos por justiça, quando não –
sejamos sinceros – vingança pura e simples.
Existe um
mandamento da Igreja que diz: “Receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela
Páscoa da ressurreição”. E esse mandamento está diretamente ligado com outro
que diz “Confessar-se ao menos uma vez por ano”. Mas ora, aqui nós estamos
falando estritamente do mínimo necessário, e o verdadeiro amor desconhece os mínimos.
Os sacramentos são os canais ordinários da graça de Deus, e desta nós não
queremos o mínimo, mas o máximo. Devemos, portanto, procurar aumentar a
frequência com que buscamos esse sacramento, até chegar à “dose”, digamos
assim, semanal.
O que confessar?
Nesta ordem de importância: pecados mortais, pecados veniais, defeitos. A
confissão frequente não só perdoa os pecados, como nos dá força na luta contra
eles. Então é de se esperar que esta ordem se observe - aos poucos, e a muito
custo, claro - no caminho rumo à santidade.
Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, nunca pecou
e, portanto, nunca precisou se confessar. Mas ninguém melhor que ela sabe
interceder junto a Seu Filho pelo perdão dos pecadores. Que Ela nos ajude,
agora e na nossa de nossa morte, a fazermos boas confissões, e assim recebermos
a graça de Deus.
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